16 de out. de 2015

Seja a mudança que quer ver no mundo


Tânia, obrigada pelo retorno e por compartilhar comigo um pouco sobre o "nascimento" da Kik.
O que dizer??
É tão triste pensar no ser humano dessa forma...tão triste pensar que existem (e sabemos que existem) pessoas preconceituosas (e falo de qualquer preconceito), pessoas que se julgam superiores a outras, pessoas que acreditam ter o direito de excluir o outro porque ele é diferente ou porque ele não se encaixa no padrão que criou para si próprio e para o mundo que acredita viver...
Eu também chorei Tânia.
Juro.
Fiquei triste, perplexa, desiludida ao ler teu e-mail. E ao abrir a imagem da Kik, chorei.
Eu não sei o que é ter preconceito, da forma que for. Nunca tive. E desejo, do fundo do meu coração, que a minha filha nunca saiba o que é isso.
Sentimento feio, pequeno demais para quem tem um coração.
As crianças são tão puras, tão inocentes...não sabem nada desse mundo dos adultos...não conhecem a rejeição, não reconhecem a diferença como algo negativo. Não conhecem a inveja, a mentira, o rancor...elas chegam carregando só amor e é assim que deveria ser durante toda a vida.
Mas não é...
Por isso o trabalho de vocês é tão incrível, é tão humano...é um gesto verdadeiro. Digno.
Vocês tem um grande coração. Não nos conhecemos pessoalmente, mas admiro muito vocês e sei o quanto vocês são lindas por dentro!
Eu desejo que a Kik seja capaz de ser, de alguma forma, essa sementinha da mudança.
E desejo, de verdade, que as pessoas sejam capazes de enxergar a Lola não só como uma marca de slow design bonita, mas como uma forma de representar ações nobres, como uma forma de representar o amor que cada um de nós deve carregar dentro de si e compartilhar com o outro.
Os desenhos são lindos, claro que são! As Lolinhas são lindas!!! Eu adoro a "...comlola"! Mas a cada nova Lola que chega aqui em casa chega também um pacote de amor, e além dos momentos divertidos que eu e a minha filha passamos, criando histórias com os personagem, eu tenho a chance de ensinar pra ela um pouco mais sobre o que é amor, sobre o que é gratidão, solidariedade......na esperança que ela compreenda que o mundo é um só e que são as diferenças entre nós que nos ensinam todos os dias a sermos pessoas melhores, porque sempre aprendemos com o outro e sempre temos o que compartilhar.
Desculpa se meu e-mail ficou extenso.
A kik é linda, o desenho é lindo!! Mas ela é linda, principalmente, porque traz e reforça a mensagem de que não importa como somos, de onde viemos, o que gostamos, o que temos ou deixamos de ter...ela reforça a ideia de que somos todos iguais e lembra aos desavisados que, ainda que o preconceito exista, o amor prevalece.
Obrigada pela atenção e por dividir comigo a história da Kik.
Amanhã estarei finalizando meu pedido!! Já vou poder incluir a Kik?! :)
Um beijo nosso, boa noite!
Raquel

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Raquel Daroda, cliente do ateliê ...com Lola
 



Era só mais um dia, desses sem grandes proporções.
- Vocês choram nas ações, né? não é possível.
- não, não choramos. Há muito estudo, conhecimento e experiência envolvidos no nosso trabalho e chorar perante crianças que já tiveram seus direitos violados seria a materialização do egoísmo.

Silêncio.

Mas naquele dia, de expectativa pouca nas proporções, eu chorei. - Sim, eu sou emotiva. Choro perante o belo. Choro de alegria. Choro de emoção. Choro de dor. Mas aquele choro foi, foi.... foi.... talvez de revolta. Talvez de vazio.

Certa vez, no Complexo da Maré, ouvi de um ativista: "o que você faz aqui? Você é branca, 'zona sul', patricinha. Esse não é seu lugar. Vai embora". Respirei - sorri e disse - vim aqui fazer meu trabalho.
Me senti humilhada. Em público. Carreguei esse sentimento comigo acreditando ter vivido a mesma coisa que um negro provavelmente viveu (ou alguém de sua árvore genealógica), quando contestado pela cor da sua pele. Mas não. Claro que não. Boba ingenuidade minha. Eu vivia um refluxo de uma estrutura velha, antiga, cansativa, real e ainda atual que existe no Brasil - e em alguns lugares do mundo. Era uma resposta, que caiu em mim. Era uma reação. Não era a mesma coisa que ele havia passado. Eu entendi. E transcendi. E segui.




Volto para o dia de expectativa pouca. Engoli o choro. Não somos de dar bola para quem não quer nos seguir - acredito e luto pela livre escolha. Mas tinha algo a mais naquela enxurrada de 'unfollows'. - não pode ser, o aplicativo está maluco, só pode. Dias depois, a mesma constatação. E não se assuste, você que chegou até aqui e está vivendo essa emoção conosco: logo após o post sobre Kik, foram 17 unfollows.
Continue sem se enganar: se você não é negro - ou 'não tem nada fora do padrão imposto como normal', não faz a menor ideia do que é isso. Eu não sou e sei que essa propriedade não é minha. Eu sei. Mas depois de alguns anos e algumas ações, diálogos com ativistas, coração aberto e mente perceptiva, me permito dizer - com humildade, respeito e cautela - que a discriminação existe, é cruel, camuflada e está sentada, provavelmente, ao seu lado.

Respiramos.
Conversamos.
Esperamos.

algumas noites no meio dormindo com isso na cabeça

e naquele vazio foi se formatando o desejo de, de alguma maneira, trazer isso à tona, da nossa melhor forma: o amor, a emoção.
Kik nasceu no suspiro de alívio do entendimento: essa também deve ser nossa luta. A luta da igualdade. a luta do amor. a luta onde o ser humano vem antes da cor, do gênero, da roupa que veste, da música que escuta, da cultura que tem. e se precisamos de uma personagem negra para trazer isso à tona, está feito - porque representatividade importa. E muito.

Kik


[Antes que você me pergunte porque Kik não nasceu sem a necessidade da luta, te respondo: nossa intenção nunca foi ter outro personagem ser humano. A Lola, nascida em 2009 - quase que numa brincadeira, é o reflexo de Emika, a ilustradora. Há quem diga que sou eu. Há quem bata o pé e afirme que é ela. Para nós, a Lola é a criança que vive dentro de cada um de nós - de onde nasce a criatividade - que quando adultos deixamos tanto de lado ~  portanto não importa a cor, o formato e o gênero]

então,
vamos celebrar o amor.
vamos celebrar os novos seguidores.
vamos celebrar uma das fotos mais curtidas no nosso instagram e na fanpage.
vamos celebrar as kik's já vendidas sem sequer terem sido anunciadas disponíveis na loja.
vamos celebrar todas as cores da caixa de lápis de cor.

eu, tânia, em uma das ações do Brincando ...com Lola - diálogos para uma vida inteira

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...com Lola é um ateliê de Slow Design.
Nós somos um negócio social. Para cada produto que você compra, nós doamos uma Lola para uma criança ou jovem que tiveram seus direitos violados e/ou em situação de vulnerabilidade.








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